(Re)Começos

A cada início de ano há uma sensação de oportunidade que nos invade. Ainda que a diferença relativa ao ano anterior seja apenas de alguns dias, sentimos que temos uma nova oportunidade de recomeço. De corrigir o que foi menos positivo, aceitar o que não se pode corrigir e fazer o que ainda queremos fazer. Falamos de objectivos, metas e sonhos. Como se magicamente um mundo de possibilidades se abrisse para nós. Um novo ano é como respirar fundo para continuar o caminho. Mas como é que ao fim de tantos “novos anos” podemos continuar a definir objectivos? De que forma é que, como família, podemos encorajar os mais velhos a manter esta vontade de alcançar novas metas?  Em primeiro lugar é necessário utilizar a ferramenta essencial às relações humanas (de que já falamos tantas vezes): a comunicação. Comunicar vem do latim communicare que significa tornar comum, partilhar, conferenciar.  Este é o primeiro passo: escutar as ambições do outro, os medos, e os sonhos, independentemente da idade de cada um. Este exercício de escuta pode ser feito de forma mais ou menos intencional. Um bom momento para isto é a refeição, em que a família se reúne, que é um momento privilegiado para partilha. Hollywood em 2007 lançou um filme chamado “The Bucket List” que retratava a história de vida de dois homens que, estando internados num hospital em fase terminal, decidiram partir e cumprir todos os objectivos/sonhos que ainda tinham por realizar. Para isso escreveram aquilo que dá nome ao filme: uma bucket list. Em português podemos chamar-lhe de lista de desejos. Não precisam de ser desejos megalómanos podem ser desejos simples como experimentar aquele restaurante ou andar de avião. A principal ideia é que esta lista seja feita em conjunto e que seja realista. Mas porque é que é tão importante fazer este exercício? Pascal escreveu: “Nada é tão insuportável para o homem como estar completamente em repouso, sem paixões, sem negócios, sem diversão, sem esforço. Ele sente o seu nada, o seu desespero, a sua insuficiência, a sua fraqueza, o seu vazio”. (tradução livre de Pascal, the pensees, 1660/1950, p.57). Também Robert. A. Emmons, um psicólogo americano, referiu que “a consecução de objectivos é um marco importante para a experiência de bem-estar. Quando questionados sobre o que contribui para uma vida feliz plena e significativa as pessoas referem, espontaneamente, os seus objectivos, desejos e sonhos para a vida” (tradução livre). Percebendo, portanto, a importância indiscutível da manutenção do hábito de estabelecer novas metas a cada ano fica a questão essencial: de quem é a tarefa de ajudar os mais velhos a fazer esta reflexão? A quem podem recorrer para a planificação do novo ano que inicia? Será apenas ao agregado familiar ou o resto da família também pode ser envolvida? Falaremos disto no próximo texto… até lá!