June2020

Novas realidades

No texto passado vimos como é importante apoiar os nossos mais velhos neste regresso a uma “normalidade” diferente. A verdade é que todos nós estamos um pouco expectantes sobre o futuro e a forma como as relações se vão ajustar a estas novas regras. Nos últimos dias ouvi dois desabafos que refletem precisamente sobre as alterações das relações. O primeiro era qualquer coisa como: “a minha mãe achava que eu estava a usar máscara por ter medo do que ela me pudesse pegar. Ficou muito ressentida pela ausência de cumprimentos e de visitas dos netos”. Por outro lado, ouvi também uma senhora, dos seus 80 anos, dizer que o que lhe tem custado mais nestes últimos meses é precisamente este afastamento dos filhos e dos netos que agora a parecem forçar a um isolamento desprovido de afectos. A verdade é que o medo de sermos transmissores deste vírus alterou profundamente a forma como nos relacionamos. Se visitamos os nossos mais velhos vamos a medo, cheios de cuidados, mantendo sempre a distância e a pressa para que o contacto seja o mais breve e seguro possível. Mas surge aqui uma questão: e a segurança psicológica do nosso mais velho? Abraham Maslow desenvolveu nos anos 50 uma teoria humanista que pode ser resumida na famosa pirâmide das necessidades do ser humano.  O nosso foco será no terceiro patamar da pirâmide que são as necessidades sociais. As necessidades sociais são as necessidades do indivíduo manter relações humanas harmoniosas e de se integrar na sociedade. As necessidades de estima englobam o reconhecimento das capacidades do indivíduo (por ele e pelos outros) e a necessidade de respeito e orgulho. Por fim, as necessidades de auto-realização são as do aproveitamento de todo o potencial do indivíduo, necessidade de crescimento (ligada à necessidade de estima) e a necessidade que o indivíduo tem de fazer o que gosta e quer. Durante os últimos meses todos nós fizemos um esforço para que as primeiras necessidades da tabela de Maslow, sendo as primeiras fisiológicas e as segundas a segurança, fossem colmatadas às custas das necessidades sociais. Como poderemos então garantir que as três são mitigadas? Há muitas formas de demonstrar afetos mesmo à distância. Os netos podem fazer visitas mais demoradas nas quais conversam com os avós sobre os temas pelos quais tenham gostos comuns e os incentivem a manter actividades das quais gostem.  Se a avó sempre gostou de cozinhar porque não deixá-la preparar um almoço para a família, não descuidando os cuidados de higiene necessários, para comerem juntos ou até mesmo para levar?  Se o avô tem vontade de mostrar a coleção de selos ou contar as histórias do passado porque não lhe fazer companhia com ajuda da videochamada? Este equilíbrio entre as necessidades várias não é fácil e com certeza algumas coisas funcionarão melhor que outras. O essencial é que os nossos mais velhos se sintam úteis, importantes e valorizados. Para que nenhum deles sinta que a família não os quer como queria e que a incerteza destes tempos os sobrecarregue mais do que é necessário.

Ler mais »

Demência e Covid-19

No texto anterior reflectimos sobre a necessidade de desconfinamento dos mais velhos de forma responsável e sensata. Passado um mês podemos ver que, aos poucos, foram reabrindo espaços comerciais, espaços públicos e espaços culturais. No entanto no texto passado não abordamos a seguinte questão: Como é que promovemos um desconfinamento seguro ao nosso mais velho com demência? Em textos anteriores vimos a definição de demência, as suas características e as suas consequências. Se para qualquer pessoa o tempo de confinamento obrigatório foi difícil e a adaptação a novas rotinas foi um grande desafio para uma pessoa com demência este tempo foi ainda mais complicado. Não só pela alteração de rotinas, que vimos anteriormente ser muito importantes para a manutenção das capacidades ainda existentes, mas também pela ausência da visita de familiares abruptamente. A impossibilidade de sair para passear ou de manter   contacto com a comunidade podem ser muito violentas para uma pessoa com demência devido à dificuldade de compreender as razões da sua nova “reclusão”. Neste aspecto é essencial que haja, repetidamente o cuidado de explicar a existência do Covid-19 e as suas consequências. Lembre-se: fale com simplicidade e não sobrecarregue o seu mais velho com muita informação. Posto isto surge o desafio actual: como voltar a sair com o nosso mais velho com demência sem que isso constitua um perigo para o mesmo. Vou deixar algumas recomendações práticas, mas lembre-se: cada pessoa é única e tem especificidades que devem ser tidas em conta. Antes de sair deve certificar-se que o seu mais velho está confortável com a saída. Se o mesmo se mostrar muito relutante e desconfortável com a saída a rua pode levá-lo apenas até a porta de casa e aproveitar para conversar sobre o desconforto. Quando sair certifique-se de que o mesmo não toca em nada ou se tocar ajude-o a desinfetar as mãos e explique-lhe porquê. É importante manter uma vigilância cuidada durante o tempo em que está fora de casa. Mantenha os passeios curtos, mas garanta que são prazerosos para o seu mais velho. De nada vale sair se for à pressa, com muita restrição dos movimentos e se não for relaxante e prazeroso. Quando voltar a casa siga as regras da DGS (ainda que isto lhe tome tempo): Retire os sapatos à entrada de casa, ponha toda a roupa usada no passeio para lavar, se possível ajude o seu mais velho a tomar um banho. É claro que tudo isto requer tempo e paciência, no entanto lembre-se que é absolutamente essencial que este desconfinamento seja feito com calma e de forma relaxada. Lembre-se que o principal objectivo é manter a melhor qualidade de vida possível para aqueles de quem mais gostamos e isso inclui, naturalmente, regressar à vida normal sem que isso seja uma fonte de stress. A Home24 está também a fazer este trabalho com os seus clientes e estamos a disposição para o ajudar nesta fase de transição. A Alzheimer Portugal dispõe também neste link,
https://alzheimerportugal.org/pt/text-0-10-55-471-material-de-apoio-covid-19 ,algumas orientações para estes novos tempos que parecem ser tão desafiantes.

Ler mais »