Com quem podemos contar?
No texto passado vimos a importância de a cada início de ciclo, definir novos objectivos. Ficou por responder a quem podem recorrer os mais velhos na prossecução destes objectivos. No fundo o que se pergunta é “com quem podem contar? “. Para responder a esta questão importa olhar para a teoria da vinculação. A vinculação diz respeito a uma ligação que, uma vez estabelecida, tende a ser duradoura assumindo um tempo e espaço próprios (Moreira,2004). Já segundo Bowlby (1990), é vista como algo que possibilita o desenvolvimento da capacidade de estar só; em que o vínculo afectivo bem estruturado representa o alicerce para um desenvolvimento saudável da personalidade. Bee (1996) define a vinculação como variação do vínculo afectivo, onde há a necessidade da presença do outro e uma maior segurança na presença do mesmo. Neste sentido o outro é uma base segura a partir da qual o indivíduo explora o mundo e experimenta novas relações. Bradley e Cafferty (2001, citado por Cookman, 2005) referiram que a vinculação é relevante no processo de envelhecimento em três grandes áreas: (1) prestação de cuidados em caso de doença crónica, (2) luto e lidar com a perda, e (3) adaptação ao envelhecimento e bem-estar na velhice. Acresce que, a consciência de que a vinculação é tão relevante na velhice como noutras fases da vida ajuda a combater estereótipos relacionados com os idosos bem como a subvalorização de certos acontecimentos. Ocorre, não raras vezes, que idosos cuja saúde está em declínio podem contar com a ajuda contínua de terceiros, como médicos, enfermeiros ou cuidadores formais. Em tal situação, os idosos podem desenvolver relações de vinculação com os profissionais referidos que os ajudam a satisfazer as suas necessidades de conforto e apoio emocional (Cicirelli, 2010). Podem, também, e com o evoluir do tempo, emergir novas relações de vinculação com filhos e netos pelo que, embora o número de relações de vinculação possa não diminuir com a idade, podem surgir alterações no tipo de pessoas a quem o idoso se vincula (Nicole, Doherty & Feeney, 2004, citado por Assche et al., 2013). O conceito de qualidade de vida está relacionado à auto estima e ao bem-estar pessoal e abrange uma série de aspectos como a capacidade funcional, o nível socioeconômico, o estado emocional, a interação social, a atividade intelectual, o autocuidado, o suporte familiar, o próprio estado de saúde, os valores culturais, éticos e a religiosidade , o estilo de vida, a satisfação com o emprego e/ou com atividades diárias e o ambiente em que se vive. O conceito de qualidade de vida, portanto, varia de autor para autor e, além disso, é um conceito subjetivo dependente do nível sociocultural, da faixa etária e das aspirações pessoais do indivíduo. Conclui-se, desta forma, que a vinculação nos idosos é relevante para a sua qualidade de vida (psicológica, mental e social) e que as diferenças individuais, no que concerne aos estilos de vinculação, estão relacionadas com reações distintas aos desafios presentes ao longo do desenvolvimento. Apesar destas noções e da ênfase original de Bowlby sobre a vinculação como um processo de vida, tem-se atribuído pouca atenção à vinculação na velhice, comparativamente a outras etapas do ciclo vital. Para além dos vínculos que cada um vai formando ao longo do seu ciclo de vida há outra variável muito importante à equação pessoal que permite alcançar a tão desejada qualidade de vida. Estamos a falar, claro está, da personalidade. No próximo texto veremos quais são e que impacto têm no ciclo vital de cada um.