História de Vida

No último texto reflectimos sobre a solidão, a sua incidência e a forma como pode ser colmatado. Um dos factores fundamentais que vimos é a história de vida da pessoa cuidada. Qual é então a importância de termos conhecimento da mesma? Em primeiro lugar pela necessidade e obrigação moral do reconhecimento da dignidade da pessoa que estamos a cuidar. Independentemente do estado actual do idoso é essencial reconhecer que o mesmo tem uma história de vida bem como um passado que o condiciona a ser o que é e o que será. Este reconhecimento pode muito bem ser a chave para compreender o comportamento da pessoa cuidada. Erik Erikson, na sua teoria acerca do desenvolvimento humano, descreve os vários estágios através do qual acredita que todos os seres humanos passem. São estes:  confiança básica vs desconfiança básica, autonimia vs vergonha e dúvida, iniciativa vs culpa, diligência vs inferioridade, identidade vs isolamento, generatividade vs estagnação e por fim integridade vs desespero. A cada etapa o indivíduo cresce a partir das exigências internas, mas também das exigências do meio em que vive, sendo, portanto, essencial a análise da cultura e da sociedade em que vive o sujeito em questão. Na última etapa o ser humano, segundo Erikson, tem tendência em fazer um processo de retrospecção. A pessoa pode simplesmente entrar em desespero ao ver a morte a aproximar-se. Surge um sentimento de que o tempo acabou, que agora resta o fim de tudo, que nada mais pode fazer pela sociedade, pela família, por nada. São pessoas que vivem em eterna nostalgia e tristeza pela sua velhice. No entanto a vivência também pode ser positiva. A pessoa sente a sensação de dever cumprido, experimenta o sentimento de dignidade e integridade e divide a sua experiência e sabedoria. Existe ainda assim o perigo do individuo se julgar o mais sábio, e impor suas opiniões em nome da sua idade e experiência. Tendo isto em conta a forma como a pessoa se comporta é indicador do seu próprio processo de envelhecimento. O conhecimento do mesmo e da sua personalidade é uma garantia de que os cuidados serão o mais humanos possível. Porque se a senhora Maria foi professora toda a vida e trata-la por Doutora a faz sentir melhor é assim que deve ser tratada. Se a senhora Joaquina teve uma secretária que a tratava mal com o mesmo nome que a cuidadora isso pode explicar o porquê de agora, anos mais tarde, a mesma não querer estabelecer uma relação de confiança com a mesma. Tal como o senhor Manuel, que toda a vida gostou de conversar profundamente sobre o sentido da vida e do seu trabalho, continuará a fazer o mesmo. As pessoas idosas não são novos seres com outras personalidades quando chegam a essa fase. São pessoas que tal como qualquer um tem o seu percurso de vida, a sua soma de alegrias e tristezas e a sua personalidade. O (re)conhecimento desta dimensão pessoal e social dos mesmos é essencial para que os cuidados e a sua manutenção na vida social sejam facilitados. Para a Home 24 este respeito pelas tradições, costumes e vivências são essenciais para que, em parceria com a família, os cuidados sejam garantes da qualidade de vida da pessoa idosa. No próximo texto falaremos sobre as tradições e os costumes tão importantes para os idosos. Até lá!