Novas realidades

No texto passado vimos como é importante apoiar os nossos mais velhos neste regresso a uma “normalidade” diferente. A verdade é que todos nós estamos um pouco expectantes sobre o futuro e a forma como as relações se vão ajustar a estas novas regras. Nos últimos dias ouvi dois desabafos que refletem precisamente sobre as alterações das relações. O primeiro era qualquer coisa como: “a minha mãe achava que eu estava a usar máscara por ter medo do que ela me pudesse pegar. Ficou muito ressentida pela ausência de cumprimentos e de visitas dos netos”. Por outro lado, ouvi também uma senhora, dos seus 80 anos, dizer que o que lhe tem custado mais nestes últimos meses é precisamente este afastamento dos filhos e dos netos que agora a parecem forçar a um isolamento desprovido de afectos. A verdade é que o medo de sermos transmissores deste vírus alterou profundamente a forma como nos relacionamos. Se visitamos os nossos mais velhos vamos a medo, cheios de cuidados, mantendo sempre a distância e a pressa para que o contacto seja o mais breve e seguro possível. Mas surge aqui uma questão: e a segurança psicológica do nosso mais velho? Abraham Maslow desenvolveu nos anos 50 uma teoria humanista que pode ser resumida na famosa pirâmide das necessidades do ser humano.  O nosso foco será no terceiro patamar da pirâmide que são as necessidades sociais. As necessidades sociais são as necessidades do indivíduo manter relações humanas harmoniosas e de se integrar na sociedade. As necessidades de estima englobam o reconhecimento das capacidades do indivíduo (por ele e pelos outros) e a necessidade de respeito e orgulho. Por fim, as necessidades de auto-realização são as do aproveitamento de todo o potencial do indivíduo, necessidade de crescimento (ligada à necessidade de estima) e a necessidade que o indivíduo tem de fazer o que gosta e quer. Durante os últimos meses todos nós fizemos um esforço para que as primeiras necessidades da tabela de Maslow, sendo as primeiras fisiológicas e as segundas a segurança, fossem colmatadas às custas das necessidades sociais. Como poderemos então garantir que as três são mitigadas? Há muitas formas de demonstrar afetos mesmo à distância. Os netos podem fazer visitas mais demoradas nas quais conversam com os avós sobre os temas pelos quais tenham gostos comuns e os incentivem a manter actividades das quais gostem.  Se a avó sempre gostou de cozinhar porque não deixá-la preparar um almoço para a família, não descuidando os cuidados de higiene necessários, para comerem juntos ou até mesmo para levar?  Se o avô tem vontade de mostrar a coleção de selos ou contar as histórias do passado porque não lhe fazer companhia com ajuda da videochamada? Este equilíbrio entre as necessidades várias não é fácil e com certeza algumas coisas funcionarão melhor que outras. O essencial é que os nossos mais velhos se sintam úteis, importantes e valorizados. Para que nenhum deles sinta que a família não os quer como queria e que a incerteza destes tempos os sobrecarregue mais do que é necessário.