October2020

Ser idoso em plena pandemia

Este foi o mês das celebrações do dia mundial do idoso. O mês em que, por excelência as várias instituições tentam, através das formas mais criativas celebrar a vida e repensar o processo de envelhecimento dos seus idosos. No entanto este ano terá sido, com toda a certeza, bem diferente. Este ano, estes idosos viram e continuam a ver as suas vidas em pausa até haver ordem em contrário- e que bem que a têm cumprido. Importa saber realmente de quantas pessoas estamos a falar e em que situação de vida se encontram. Segundo o INE, em 2019, existiam 2.280.424 pessoas com mais de 65 anos. Já segundo o relatório de 2018 da Carta Social existiam um total de 274 000 vagas em respostas socias para idosos (Serviço de Apoio Domiciliário [SAD], Centro de Dia e Estruturas Residenciais Para Idosos [ERPI]) sendo que destas existiam 100 000 vagas para ERPI. Diz-nos, também, este relatório que, ainda no ano de 2018, as vagas para ERPI apresentavam uma taxa de ocupação de 98%. Acerca do corrente ano não temos ainda dados, no entanto sabemos, como disposto no texto anterior, que o índice de envelhecimento tem crescido de ano para ano e, por isso, o número de pessoas idosas a fazer usos das vagas disponíveis também terá, expectavelmente, aumentado. Ora, apesar de parecer que foi ainda ontem, as restrições impostas aos nossos idosos, como medida de combate a propagação do Sars-Cov-2, já decorrem há praticamente 9 meses. Falamos de restrições de liberdade consideráveis nomeadamente a restrição da liberdade de sair do lar, de receber visitas (excepto o SAD que se antes do Covid já era consideravelmente insuficiente para suprir as necessidades dos idosos o que será agora…), de estar com família e amigos e, no fundo, da liberdade de dispor do seu tempo vital- seja ele muito ou pouco- e de aproveitar os seus dias da forma que lhes aprouver.  E que consequências é que este tempo de “reclusão” terá sobre os 2.280.424 idosos portugueses? Como podemos ajudar a aliviar os efeitos tão profundos da solidão, do desalento e da aparente situação de abandono ainda que sob intenção de os proteger e salvaguardar? Bem a resposta imediata é óbvia: se realmente quisermos ajudar estes idosos em reclusão forçada teremos de ficar em casa sempre que for possível. Teremos de evitar os encontros de amigos no apartamento de um deles em que, se formos contar os que estamos, somos muitos mais do que devíamos. Teremos de evitar todas as situações que, parecendo inofensivas, continuam a ser fonte de propagação do vírus e avolumar de sentença para os mais velhos. Porque não basta gostar de velhinhos quando os continuamos a condenar a este castigo sem culpa alguma.

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